sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Escrever: paixão voraz

Escrever nunca foi uma escolha, mas uma necessidade. As palavras escolhem a hora que bem entendem para serem ditas. São quatro da manhã, estava caindo de sono, quando, de repente, veio-me a vontade incessante de escrever (nem que seja sobre escrever).
Caneta e papel são companheiros incondicionais! Há como desabafar todas as coisas não ditas por meio de palavras soltas, rascunhando a alma que não mostramos a ninguém num papel em branco. Ninguém está sozinho se há caneta e papel, pois essa é a melhor maneira de se sentir a presença de si mesmo. Eu me sinto inteira, conheço-me inteira e descubro meus mistérios quando procuro as palavras que vou desenhar. E descubro que sou muito mais de uma certa coisa do que eu pensava. Porque, no dia a dia, somos quem gostaríamos de ser; com papel e caneta na mão, somos quem somos, não dá para fugir. É como um raio-x direto, da alma e do coração- um detector de mentiras. Aqui, só saem verdades - e não precisamos de bebida para isso. Basta a sinceridade intrínseca às palavras que buscamos.
No papel, desliza a seriedade de saber que o tempo passa, que escolhas foram feitas. Ah, se na minha primeira linha eu soubesse que peso teriam minhas escolhas impulsivas! Teria deslizado outros parágrafos e dizeres em seguida. Se soubesse que a gente pode se arrepender sim, que não é vergonha, pelo contrário, teria escrito palavras mais positivas em muitas épocas. Se soubesse como eram boas as palavras que me rodeiam a mente hoje, tê-las-ia escrito com maior frequência, desde o meu primeiro rascunho que levei a sério,  aos 12 anos. E os 12 anos estão tão próximos desses meus 31! Quando releio os 12, eu os sinto tão perto! Não é uma questão de saudade ou de estar presa ao que passou, pelo contrário: é apenas um legítimo reconhecimento de mim mesma. Eu me vejo ali, tão nitidamente como vejo hoje. Talvez até mais transparente, afinal, aprendemos a ter máscaras para sobreviver quando viramos adultos... E repito: uma chatice isso! Talvez por esse motivo, há quem pense que não cresci. Pensa assim quem só vê a superfície. Eu vejo que vocês cresceram tanto que se tornaram desinteressantes, com suas rugas, correrias e cabelos brancos; enfadonhos com seus cansaços; pobres da alegria de viver, com seus problemas e estresses.
Minhas palavras do passado me renovam como criança que ainda sou, conseguindo me ver aos 12 como me verei aos 60 (e os 60 serão também levados a sério, com muita brincadeira de criança - ou não seria possível aturar o fato de estar viva). Realmente: sobreviveria a envelhecer a casca, nunca a alma!
E a caneta desliza sozinha, como se tivesse vida. A alma sai no papel com uma facilidade sem igual. Lugar algum poderia ser tão verdadeiro como este aqui. Às vezes, perguntam-me como fazer para se conseguir escrever. Meu primeiro pensamento, juro, é: "como assim?" Escrever é a melhor ferramenta natural de se xerocar a alma e se sentir um alguém com veias pulsando! Não entendo quem não escreve, nunca escreveu, não sabe o que é isso. É como se não soubessem de si mesmos.
E mesmo com o hábito, sempre há mais o que se xerocar em si. Algumas vezes, a "adultice" não nos deixa tempo suficiente para amadurecermos muitas linhas, aí vem a abstinência poética, com suas convulsões lexicais. A cabeça fica louca, com a ansiedade do dizer, do extravasar os desejos, as cores, as dores, os prazeres e os amores. Há de se soltar a angústia e a alegria! Nada deve ficar preso, engarrafando os sentimentos que querem respirar e se renovar. 
Sei bem, a esta altura, meus piores medos, minhas maiores angústias, minhas incontestáveis alegrias e intensas paixões; conheço meus sonhos tão de perto que parecem reais; sei de meus desejos mais profundos, aqueles impronunciáveis. Descubro-os ao fazer as palavras se sortearem na minha cabeça. E, por isso, conheço bem minhas palavras preferidas: INTENSIDADE, PAIXÃO, ALEGRIA, AMOR, VERDADE, FELICIDADE, TESÃO, SORRISO, LIBERDADE, AR, BRISA, MONTANHA, COR, NATUREZA, NUVEM, CHUVA, SOL, MAR, GOTÍCULAS, ASTERISCO, LÍNGUA, FORÇA, PALPITAR, DESEJO, CÉU, TERRA, RISADA, MOTIVAÇÃO, ARTE, MÚSICA, TEATRO, DANÇA,  POESIA, PAISAGEM, INESQUECÍVEL, INDIZÍVEL, VONTADE, SEMPRE, CORAÇÃO, VIDA!
E estou pronta para envolver novas palavras que me façam saber (ainda mais) de mim. Essa intensidade de ser alguém que ama as palavras que devem ser ditas, expurgadas, ejetadas e desenhadas, do coração para o papel.





quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Rima da saudade


Boca inquieta pelo beijo que se quer
De rara intensidade palpitante
Uma paixão que é
Na garganta, sufocante
Um desejo inquietante

Sensação inominável
Ansiedade insuportável
No corpo e no coração
Tesão que inflama a sedução

E o pulsar de batimentos cardíacos
Sabores tão afrodisíacos...
Além da própria vontade
Lindo, puro e de verdade

Voraz, forte e indecente
E a intensidade adolescente
Dessa saudade tão latente!






domingo, 6 de maio de 2012

Artista

Cresci querendo ser artista. Não que eu ache que há algum glamour nisso, porque, de onde venho, querer ser artista pega mal para caramba! Tenho amigos que são doutores em muita coisa, bem-sucedidos em sei lá o quê, concluindo alguma pós em gestão de qualquer coisa. E eu? Bem-sucedida professora de Língua Portuguesa, ainda querendo ser atriz. Posso? Ouvi outro dia da Bia Oliveira, pessoa que admiro profundamente: "a sala de aula é o nosso palquinho". E a gente pode ter o direito de não ter um palquinho, mas um palco de verdade, com toda a correria das coxias e aquela oração que termina com "quebrem a perna, todos!!!"? Quem faz gestão não entende... Mas, sabe de uma coisa, quando foi que eu resolvi me encaixar nesse mundo de gente normal que quer mostrar serviço, se eu não nasci normal? Minha tribo é outra: "Eu sou da tribo do abraço", citando meu querido Cazuza, mais uma vez... Continuo sendo a menina de 14 anos, com cabelos vermelhos e mechas azuis ( e digito esse texto, agora com 30 anos, de cabelos vermelhos e unhas azuis). Os normais tentaram me convencer, mas continuo com os mesmos sentimentos, as mesmas paixões, as mesmas revoltas, as mesmas cores... Sinto pena é de quem não tem paixão na vida e vai fazer "administração", educação física", "direito", "estatística" e, até mesmo, "letras", por não se apaixonar por coisa alguma.
Passei um tempo querendo ser reconhecida por escrever bem, por ser intelectualmente aceitável, por ter profundidade de pensamentos e vocabulários. Bobagem! Queria mesmo era ser reconhecida como a artista que sempre sonhei: pelas aulas de canto, música, dança, interpretação, por ser uma menina classe média-de-origem-suburbana que conseguiu fazer tanta coisa que ama-e  amar tanto o que faz!
E, apesar do tamanho e da cara de garota, não dá mais para fazer o papel da menina de 15 anos, porque alguma coisa me acusa a face: o tempo, que, irremediavelmente, diz a todos o que eu já sei - não sou mais a mesma!
Sou esse ser maduro, cheio de dor, com um monte de sonhos entalados na garganta, querendo tomar conta do espaço, querendo fazer diferença na existência mísera que é o ser de um ser humano frustrado e cansado que virou adulto, irreconhecível, chateado, sem berço, sem investimento, sem tempo, sem cor do sol, sem drenagem linfática, sem o amado balé, com a tortura de uma coluna que dói devido à luta e à falta do jazz...
Mas um dia chega um pouco de dinheiro e, com ele, um pouco de esperança... E quem disse que ele não traz felicidade? Uma pessoa burra, retardada, medíocre, burguesa da zona sul, é claro...
Mas eu, menina-mulher-zona oeste, descobri, depois de muito me revoltar, que há, sim, a possibilidade de ser a menina de 14 anos que eu sempre quis ser, voltando ao meu palco, retomando o meu lugar e sendo, finalmente, muito feliz, com a linguagem, a escrita, o canto, a interpretação, a minha querida Língua Portuguesa que, no fim das contas, proporcionou-me tudo o que sonhei. Ironia sem fim: nada nesta vida é por acaso mesmo; damos voltas e não saímos do lugar. Eu não saí...

quarta-feira, 14 de março de 2012

Infinita...

Lamento... Eu mascaro o choro que vem de dentro
Porque já sonhei mais
Porque já me senti mais linda
Porque esqueci o “para sempre” e o “jamais”

E a cada ida e vinda
Esse gosto que tanto faz...

Porque já sonhei com o Forte e as ondas batendo
Com o Pão de Açúcar ou o Cristo Redentor
Com os desejos ardendo
E em conhecer o Arpoador

E a vida é tinta
Que se desfaz...

Porque, logo eu, pequena errante,
vi do alto da roda gigante
A torre do Othon, que vislumbrei
O lugar que sempre sonhei

E a paisagem era linda
E eu, tenaz...

Um dia, o calçadão de Copa
Ou a festa perdida em Olaria
Um dia, a vida que roda
No outro, aqui sozinha (sofria...)

E a vida é infinita
E à razão nos traz...

Não há refrão que corrija o destino
Não há palavra que mude o presente
A paixão se vai com o desatino
E essa bebida não altera a mente

(Não suficientemente...)

E a coisa é tão finda
Que aos poucos se desfaz

(Ou deveria ser...
Há quem não tenha anoitecer...)

Talvez seja ainda mais forte
E mais “para sempre” que qualquer jura no altar
Porque existe quem seja o norte
O que nasceu para não acabar

E assim é ainda mais linda
a noite saudosa que se faz

Nos sorrisos dos olhos covardes
E dessas esperadas tardes
E a palavra não dita
(Boca calada e maldita)

Porque tenho que dizer adeus
E peço sentir menos disso tudo
A Deus...
Peço não sentir o luto
Terei de ficar junto aos meus...

Adeus ao anjo dos meus sorrisos
E ao dono de todos os calafrios
O que fez de mim um coração batendo
Uma manteiga derretendo
Um desejo corroendo
Muitas coisas melhores em mim
E essa saudade sem fim

Sem fim...

Porque a coisa é linda
E, em saudade, sempre se refaz...

E a coisa termina e se faz
E de tão infinita se refaz
Faz
Refaz
Satisfaz e não desfaz
Espera e traz
Mas é linda
E não termina

Nunca mais...