sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Esses Dias

(Para Paulinho)



 Esses dias, que seriam tão normais, com um livro nas mãos e um filme na tevê
Mas esses são os dias frios, com segredos de edredon, queijos,vinho e você

Esses dias leves de conversas madrugadas, em ótimos sons
Esses dias de sorriso e suaves risadas - como são bons!

Esses dias em que nos permitimos ir aonde quer que fosse
Esses dias sem decidirmos muito - momento doce!

Esses dias, em que sou movida por um impulso de sorrir
Essa vontade de me alimentar do que me faz sentir

E de devorar seu cheiro entorpecente
E de beijar o som de sua voz quente

Que aquece meus sentidos
E aguça meus ouvidos
Quantos suspiros!
Ah, esses dias frios...
Quantos calafrios!

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Ofegante


(Para Paulinho)

A alma crua desliza no papel em branco, transformando-o em um pouco de preto pálido, enquanto há uma mente impulsionando a necessidade de sorrir. Com certo brilho nos olhos e muita inspiração, ela suspira. E, enquanto suspira, o gosto da boca que deseja é sentido junto à sua, numa respiração levemente ofegante, em um ritmo que se acelera, semelhante à sua necessidade de se sentir viva.
Nada é mais revelador que a respiração fora do compasso natural do Universo. Quem a olhasse, perceberia em sua face, externando, enrubescida, a sua pulsação. E aquele sorriso leve, no canto da boca, aquele sorriso senhor de seus sentimentos mais ocultos, guardado em seu escaninho interior, denunciava seus verdadeiros anseios. Seus sentidos confundiam-se: cheirava com as mãos, sentia o tato com a língua, saboreando texturas e respirando as cores que se formavam à sua frente. E os sentidos a escravizavam do desejo de sentir mais e de se reconhecer em tantas sensações ofegantes.
Havia ainda aquele calafrio que lhe subia a espinha, concluído em um sopro leve que passava por seus lábios frios, aquecendo-os na temperatura exata de sua intensidade. Essa força violenta de sentir o desejo, de respirar a vida que lhe corre as veias.

E um som sussurra em sua pele, como soco no estômago: paixão!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Inspiração


Ele é um menino. Garra e sonhos nos olhos.

Ele é lindo. Sensibilidade nas palavras e encantos na face. 
Tanto que fica derretida a mulher do outro lado da tela do computador.
Ele é um menino. Talentoso, carinhoso, artista nato. 
Tão intensamente inspirador, que falta um pouco o ar à mulher que, nesse momento, já tem os olhos brilhando, como se lhe devolvessem a alma de menina.
E, de repente, valem a pena as noites insones, exalando poesia pelos dedos dedilhantes.
Madrugadas afora de intimidade mútua, natural, sem nenhum esforço. Amizade pura e recíproca. De cumplicidade de almas que se aproximam pela afinidade latejante de palavras e pensamentos. 
E o que intriga a mulher é que o menino a faz sorrir.
É música e poesia. Vida em forma de arte. Arte que é vida.
Mas ele é só um menino! 
Ela então percebe o engano: ele é o homem; ela, a menina.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Copacabana

Gosto de andar pelo Rio de Janeiro da zona norte à zona sul
E de pensar no sorriso de quem me faz tão bem
Gosto do que sinto quando passo pela Avenida Atlântica
Do coração, acelerado, pulsando a nostalgia e a alegria,
Enquanto penso que grande parte de mim ficou ali,
Parada no tempo em que, para tudo, não havia o que dizer
Afinal, serão sempre mais do que palavras


Mais do que palavras... Ah, essas palavras que me faltam
Toda vez que tenho algo a sentir
Essas palavras que não tenho
De que não sou dona
E não me sinto digna de proferir,
Apesar do vasto vocabulário no Houaiss em minha estante...
Ainda assim, perco-me em sentimentos intraduzíveis!


E eu, que achava que a adolescência acabava aos 19...
Sei bem que nada sei
Sinto-me mais tola do que nunca!
Sei menos ainda esconder meu coração
Apesar de também não o saber dizer


Escrevo redondilhas durante a madrugada
Que continuam não encontrando o quê de que preciso falar...
Tenho medo de desaparecer de mim o som da batida de meu peito,
Quando passo por Copacabana,
E, mesmo que ninguém entenda, não:
Eu não prefiro Ipanema!
Pois é Copa a testemunha de que meu músculo involuntário existe
Embora não existam as palavras para dizê-lo...


E eu, que achava que manteria para sempre a coragem que carregava na sétima série,
Quando tinha respostas na ponta da língua para absolutamente tudo...
Mas palavras me somem quando penso nos dias de semana na Lapa
E no mesmo ônibus que me levava à Presidente Vargas,
Depois dos longos minutos ajeitando os cabelos
E escolhendo o perfume...

(Gosto que seu cheiro seja igual ao meu:
Toda vez que respiro, lembro você)


E há um trecho de vida martelando a cabeça
De conversas de casos e besteiras
De segredos escapados
Fechando e abrindo a geladeira a noite inteira
E sabendo que não adianta buscar as palavras:
Estão perdidas pela cidade...
Perdi a chance de encontrá-las dentre as canequinhas do Manoel e Joaquim
Tão feliz, ouvindo o samba da Portela, vendo sorriso e brilho nos olhos...



Esse Rio que conhece meus segredos
E eu, que virei boba de repente
E, em todos os sorrisos e sonhos imaginados,
As palavras daquele momento final
As palavras que bem conheço
E que teimam em não conseguirem ser ditas!


Eu, que conheci, agora, o que é ser covardemente ridícula,
Que tomei consciência demais...
Lembra como já fui impulsivamente incorreta?
Guarda mais um segredo? Adorava isso em mim...
Porque não fui errada por motivos vis
Apenas fiz o que todos pregamos, sobre seguir o coração...
Não, não sei mais segui-lo!
Preciso de uma mão que me puxe e me diga para sair de uma vez desse mundo de adultices
Essas responsabilidades idiotas criadas por seres humanos lunáticos
Talvez mais loucos do que eu!


Minha inconseqüência sempre foi amar demais
Mesmo amando errada, mesmo errando por amar
E, mesmo errada, amando, amor...
E ao amor amando e, do amor, a dor
E a dor de amar doendo dor
Essa dor gostosa de sentimento latejante
Essa felicidade doída de passear pelos cantos do Rio
Porque, toda vez que passo pela Avenida Atlântica, respirando fundo meu próprio perfume,
Lembro quem eu sou.
(porque me lembro de você).



Morfossintaxe Ambulante



Sou uma morfossintaxe de complexa análise:
Minhas orações são invertidas
Intercaladas, incompreendidas
Nada constante. Depende da fase.


De derivação imprópria minhas palavras advêm
Sou certamente hipotética
Semanticamente, poética
Possuo acentuações que ninguém tem


A paixão não é substantivo
É advérbio de tempo,
Tem sentido de sempre:
Sempre rima com combustível


Meu futuro é do subjuntivo
Sou léxico que muda como o vento
Meu tempo? Frequente!
Fragmentária e indivisível...


Os elementos coesivos de meu texto
Enlouquecem quem o tenta entender
Não há como me inserir em um contexto
Meu tópico frasal é viver


Minhas normas não foram abraçadas pela NGB:
Sou um dicionário de neologismos absurdos
Palavras são escudos
Nada em mim é o que parece ser


Sou morfossintaxe ambulante
Significação abundante
Escritora desta metalinguagem errante
Impossível de se compreender.