segunda-feira, 29 de julho de 2013

Ofegante


(Para Paulinho)

A alma crua desliza no papel em branco, transformando-o em um pouco de preto pálido, enquanto há uma mente impulsionando a necessidade de sorrir. Com certo brilho nos olhos e muita inspiração, ela suspira. E, enquanto suspira, o gosto da boca que deseja é sentido junto à sua, numa respiração levemente ofegante, em um ritmo que se acelera, semelhante à sua necessidade de se sentir viva.
Nada é mais revelador que a respiração fora do compasso natural do Universo. Quem a olhasse, perceberia em sua face, externando, enrubescida, a sua pulsação. E aquele sorriso leve, no canto da boca, aquele sorriso senhor de seus sentimentos mais ocultos, guardado em seu escaninho interior, denunciava seus verdadeiros anseios. Seus sentidos confundiam-se: cheirava com as mãos, sentia o tato com a língua, saboreando texturas e respirando as cores que se formavam à sua frente. E os sentidos a escravizavam do desejo de sentir mais e de se reconhecer em tantas sensações ofegantes.
Havia ainda aquele calafrio que lhe subia a espinha, concluído em um sopro leve que passava por seus lábios frios, aquecendo-os na temperatura exata de sua intensidade. Essa força violenta de sentir o desejo, de respirar a vida que lhe corre as veias.

E um som sussurra em sua pele, como soco no estômago: paixão!