segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Casamento: o único romance

Para Paulinho Aguiar

Muitos casais vão morar juntos, o que nem sempre significa dividir a vida. Alguns, quando moram juntos, sim, se casam - mas são poucos. Os relatos que ouço são "resolvi morar junto porque já sabia que essa pessoa não era para mim. Seria mais fácil de me separar depois". E é fato. Quando se mora junto, basta sair de casa e levar suas coisas - pronto: separação concluída!
Casar, "de papel passado", gera um compromisso de realmente sermos felizes para sempre e não basta ir embora para se separar. É preciso assinar o desfeito, assinar que se fracassou - e, depois de assinado, não há volta possível. Não há como voltar a namorar uma pessoa com quem se assinou um divórcio. É difícil até de se manter qualquer contato, pois não há mais por quê, já que se esgotaram todas as possibilidades de se relacionarem. Mas morar junto, na maioria das vezes, são namorados que estão "vendo qual é", sem o menor compromisso de darem certo. Podem ir e vir de seus relacionamentos como bem entendem (vejam bem, não estou generalizando, mas é o que ouço de quase todos que se juntam, ou já se juntaram, e eu posso dizer de carteirinha ). O casamento, o oficial, gera uma sensação definitiva que quem só mora junto nunca conhecerá. E, se conhecer, entenderá perfeitamente este meu texto.
Há vários motivos para se "juntar": testar se vai dar certo; não ficar só; facilitar deslocamentos; dividir contas; e até ter um filho (e isso nem sempre significa formar uma família) - dentre outros motivos que envolvem "facilitar a vida". Porém, casar mesmo envolve apenas um objetivo: constituir uma unidade. Você passa a ser a família do outro e ele a sua - com ou sem a presença de filhos. É um pelo outro, lutando pela vida, para o que der e vier. "Na saúde e na doença..." Se o outro cai, você cai junto, mas o ajuda a se levantar. São cúmplices, parceiros, comparsas, um só, acima de tudo. Dois que se completam e formam um. É um sentimento que corre nas veias em uma única assinatura (só quem vive sabe). E é lindo. É forte.
Claro que estou falando de gente de verdade, não de troços que buscam uma assinatura para ter pensão depois. Essas pessoas não existem no meu texto. São desconsideradas, pois, justamente, não possuem nenhum valor.
Voltando ao amor, que é, sim, a maior força que move o Universo: casar é dividir tudo. E, nessa divisão, só há soma.
Quem se casa, de verdade, conhece profundamente a palavra "união". Dói em você, dói em mim; faz bem a você, faz bem a mim... Ah, e quem realmente se casa não se separa. Não entendo quem diz "Fui casado"... Desculpa. Não foi. Quando se casa, objetivo básico: juntos até o fim. Portanto, se houve separação, não houve casamento. Houve uma tentativa fracassada, como um casal que morou junto e depois foram morar em casas separadas - casamento é OUTRA coisa. Um casamento, de verdade, é aquele em que as pessoas se unem pelo amor, que é simplesmente maior que qualquer sentimento que já haviam imaginado; é quando você descobre que todas as vezes em que disse que amava alguém, você não fazia a menor ideia do que era o amor. Porque o amor não é algo que se repete - só se sente uma vez na vida, quando se tem esse privilégio... E aí não se arrumam desculpas para não assinar e não usar aliança; nem se arrumam desculpas para terminar um curso em uma cidade, enquanto "marido" ou "esposa" vivem em outra (coloco entre aspas mesmo, pois não são maridos e esposas de verdade). Quem ama, mas ama de verdade, não se separa, faz de tudo para acompanhar o outro e para deixá-lo seguro, com todas as simbologias que existem. Quem ama não hesita em se casar, fazendo jus ao real significado do casamento: juntos, como um só, para sempre. Eu e meu marido, quando brigamos, falamos um para o outro: "Eu procurei você a vida toda. Não podemos perder tempo com isso." E não perdemos. Nosso tempo é gasto com a simplicidade e a grandeza de sorrir junto. E é o que eu mais amo em o amar.
O amor transforma, purifica e se mostra o único a ter sentido. Quando se tem o privilégio de vivê-lo, pouco importa onde morarão, ou até mesmo as ambições ou objetivos profissionais. Eles são levados em conta se somarem à família, em felicidade e bem-estar, ou serão substituídos. Porque tudo mais é supérfluo. O que importa é viver seus dias juntos, em paz. E qualquer coisa ou pessoa que ferir isso será descartada. O que importa é mesmo somar.
Por isso que eu, que já assinei uma vez pensando em me separar (despropósito total) e jurei que no meu futuro jamais me casaria, e meu marido, que sempre jurou nunca assinar com ninguém (ambos por todos os motivos já expostos, sabendo que jamais fomos casados antes), quando nos reconhecemos como AMOR um do outro e fomos arrebatados com a bênção de sentir a maior força que move a vida (nítida nos nossos olhos), mudamos todas as nossas convicções rapidamente. Nosso amor é nossa fortaleza, e nossa união merecia mesmo se chamar casamento. Defendemos um ao outro com unhas e dentes. Somos como leais mafiosos, cúmplices em absolutamente tudo (como é engraçado ver pessoas tentando chegar a um de nós com intenções escusas, achando que não dividiremos um com o outro). Somos um só. O ouvido de um é o ouvido do outro; o coração de um é, na verdade, do outro.
O amor se desperta por afinidades. Pessoas que colidem não duram juntas e não podem se amar. Muito menos se casar. Quem se casa de verdade não sente raiva com brigas ou vontade de ir embora. Pelo contrário: sente-se profundamente triste se brigar e faz de tudo para se tornar uma pessoa melhor para o outro. Em relacionamentos falidos, há muitos desencontros de pensamentos. E, se há tantas divergências, alguém começa a mentir para não se indispor - e casamento não se constrói com mentiras. E aí há a " separação". Mas, na verdade, não existe separação, pois ela só surge onde nunca houve união.
Alguém pode ler isso, pensando em mim ou no meu marido, assim: "nossa, então ele (ou ela) mudou muito. Sim, mudamos. E para melhor. Ainda bem que não somos obrigados a sermos os mesmos para sempre e nos damos a oportunidade de evoluir. Não fomos mesmo muito bons para ninguém, mas não poderíamos: precisávamos um do outro para sermos perfeitos. Não existem pessoas perfeitas, mas existe a pessoa perfeita para você. E só para ela você também será perfeito. É preciso encontrar quem desperte o nosso melhor (pois há quem desperta o pior de nós. E é claro que essa pessoa não serve). Vejo as pessoas falando que casamento é difícil, que a convivência estraga, quando, para nós, isso é tão fácil... E tão certo.
Eu e meu amor somos absolutamente iguais em tudo: da música à gastronomia; dos ideais às aptidões; da maneira como tratamos as pessoas ao temperamento; da forma de ser doce à forma de discutir; do amor à arte ao desprezo pelos que se vendem; da admiração por quem vive de bem com a vida ao asco pelos arrogantes; das amizades às inimizades. Somos um. Quem é amigo dele será meu também; quem for inimigo, idem. Vice-versa. Não existe nos dividir. Não existe contexto em que não temos nada a ver com isso, pois, caso se trate de um, é porque se trata do outro também. Não existe ele ou eu. Existimos nós. Nós não moramos juntos, apenas; nós nos casamos e juntamos todos os nossos pacotes de família e bens em um só lugar, pertencendo aos dois: livros, cds, cachorro, filhos, afilhadas, sobrinhos, computadores, pais, avós, televisão, sonhos, cama, instrumentos musicais... Não deixamos nada para trás porque não há para onde voltar. Nosso caminho é trilhado junto e projetado para o nosso futuro. Somos uma família (que está crescendo agora). Um só existe porque o outro existe. Simplesmente porque nos amamos e somos realmente casados, vivendo não o nosso último, mas o nosso único romance: somos indivisíveis, dividindo tudo, a fim de somar, para sempre.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns.Sejam muito felizes.