domingo, 9 de outubro de 2011

Felicidade bêbada

Preciso beber para ser sóbria. Para adquirir esse direito que só os alcoólicos têm de dizer a verdade, de serem mal humorados. Porque vivo numa felicidade irreal, sorrindo o tempo todo, essa minha alegria bêbada que me cansa   a beleza e quem eu sou. E há essa essência escorpiana latente, batendo forte e querendo sair. Nasci bêbada feliz, bebendo leite. Completamente louca. Tenho que beber muito para ser bêbada séria e encarar as chatices desprezíveis de ser uma adulta de quase trinta anos.
Nasci para celebrar, para ser o bobo da corte, o motivo de risada, aquela que as pessoas apontam e tacham de lunática, louca, doida, embriagada. Mal sabem eles que quando bebo é que fico sóbria. E penso nos meus problemas e tenho aquela vontade louca de mandar para o kct quem não sabe ser louco com sobriedade. Odeio quem acorda e leva a vida a sério. Odeio quem julga as pessoas felizes que fazem piada para a vida ser mais leve. Odeio quem faz pose de intelectual.
Há pouquíssimo tempo descobri que faço parte dos intelectuais. E como acho isso estranho! E nessa descoberta, descobri várias pessoas que se julgam os tais, que excluem os outros por isso, que se acham melhores em alguma coisa. Conheço um monte de gente que é melhor que eu em um monte de coisas e não precisam intelectualizar nada para isso. Quanta bobagem!
Viver com simplicidade é bem mais louvável, afinal, quem é que sabe tudo da vida? A inteligência está na humildade, não no que sabemos intelectualmente. Para ser conhecedor de algo, basta a repetição, já dizia Aristóteles. Vejo que realmente nós todos temos a mesma capacidade, apenas uns direcionam para a arte; outros, para a matemática; outros, para as filosofias na mesa de bar (que, cá para nós, foi de onde saíram a maioria dos nossos poetas, endeusados pelas pessoas que se julgam "cult". A maioria dos ídolos cultuados hoje, um dia foram tachados de marginais, boêmios e preguiçosos para o trabalho. Então nada tem a ver com colocar a gravata todos os dias, dentro de um terno Armany, ou com se entupir de maquiagens da MAC  o que traz status de inteligente e bem-sucedido). O que eu sei é que, quando as coisas dão errado, estamos fortemente preparados: pelo menos a derrota vira poesia. E para os intelectuóides idiotas: vira martini, vira psicólogo, vira coisa de divã com sociologia e pseudo-sabedoria de coisa alguma. Vira mais um motivo para se fecharem e excluírem quem vive de verdade: o povo do cavaquinho e o povo do metal; o povo meio bossa nova e rock and roll; o povo do boteco com os amigos de sempre. E, olhem a ironia, são exatamente os que são extremamente mais sábios.
Não ligo mesmo para o que cada um faz da sua vida, contanto que não sejam carrascos de outros, simplesmente porque não seguem o padrão (imposto por quem mesmo?). Abomino gente que ascende  na vida por interesse, que se baseia em futilidades, que olham os outros com desdém, apenas porque fazem parte de uma outra tribo, muito mais autêntica do que a de seguir a cartilha, convenhamos. Só não gosto de quem implica com minha alegria de criança, com orgulho de que, nesse sentido, nunca vou crescer mesmo. Ainda acho o dia lindo - qualquer um-; ainda grito de felicidade; não tenho vergonha de expressar o que sinto. Por isso não envelheço, não crio rugas desnecessárias, nem preciso estudar qualquer coisa que termine com "logia" para me sentir inserida em sei lá o quê.
Eu vou tomando minhas doses de alegria, rindo de quem não entende que a vida passa; que amanhã, perdeu-se a oportunidade de ser um bêbado alegre por opção, e isso nem tem nada a ver com consumir álcool ou não. Conheço vários bêbados de alegria que só tomam Coca-Cola. Esses, com certeza, entederão meu texto. Os intelectuóides, não. E, aqui, em segredo, nesse quarto quente, adoro falar o que eles não alcançam...

2 comentários:

Marcela Bittencourt disse...

Ah, muito bom!!
Muito você esse texto... E olha que te conheço bem pouco.
Escreva mais... Adoro passar por aqui! :)

Carlos Junior disse...

Mto bom prima!!! Viva os bêbados que sabem viver...